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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

DAR E RECEBER


As questões envolvidas na busca e no alcance de um ponto de equilíbrio entre “dar” e “receber” há séculos pululam na mente de muitos homens que se identificam com assuntos filosóficos e espiritualistas e, que assim como eu, crêem poder encontrar suas respostas mais verdadeiras quanto mais se aproximam de sua Super-consciência, a chamada Essência Divina ou Eu Superior.
Inúmeras são as pessoas insatisfeitas, diria até indignadas e revoltadas pelo sentimento de injustiça que ora se lhes acomete o coração ao perceberem que muito pouco ou nada recebem em troca do tanto que doam, especialmente quando se comparam as outras que estão sempre doando sem nunca nada lhes faltar. Assim, dentro deste contexto parece haver um desequilíbrio relativo envolvendo as ações de dar e de receber entre diversas pessoas. Partindo desta consideração e, mesmo para aqueles que admitem ser o Universo regido por sábias e imutáveis leis que garantem sua manutenção dentro de um perfeito estado de equilíbrio entre todas as coisas nele existentes, não é raro, pois, ainda emergir a seguinte questão: “Qual o verdadeiro ponto de equilíbrio entre dar e receber”?
Antes de responder à tal indagação, confesso que viso trazer à tona respostas quais sejam coerentes com meu pessoal ponto de vista, inspiradas numa interpretação um tanto mais subjetiva e intuitiva das observações que faço sobre muitas coisas.
As queixas que muitas pessoas experimentam na relação entre o “dar” e “receber” no decorrer de suas vidas, podem fazer com que muitos afirmem haver aí um desequilíbrio entre o “dar” e “receber”. Eu, no entanto, afirmo que o aparente desequilíbrio entre o “dar” e “receber”, é na verdade um desequilíbrio no modo de dar e no modo de receber, simplesmente, ou seja, está relacionado com a intenção, com a atitude consciencial que subjaz na ação. A diferença não residiria na relação do quanto se deu pelo quanto se recebeu, como se o Universo funcionasse à base da troca a exemplo do ego humano, mas sim em como se deu e como se recebeu. Temos pois, um virtual desequilíbrio quantitativo que se apresenta ante os olhos da personalidade do ego físico-mental, mas que na realidade é um desequilíbrio qualitativo que tange à sua visão. Dar e receber são a princípio apenas ações, movimentos, energias neutras em si mesmas, mas que se polarizam sob as intenções de quem as pratica ganhando assim sua verdadeira qualificação. A exemplo do cortar de uma faca, por si só esta ação é neutra em si mesma. Entretanto, eu posso cortar um pedaço de pão como eu posso cortar também uma pessoa com a intenção de matá-la. A influência das minhas intenções é que qualificam as minhas ações, tornando-as boas ou más, equilibradas ou desequilibradas em relação ao universo, cuja lei de causa e efeito a que se submetem todas as coisas impele-me a comportar de forma harmônica com ele ao sentir na própria pele o reflexo e resultado das minhas próprias atitudes.
Como podemos observar, o tal desequilíbrio não deriva da ação em si (que é neutra), mas da atitude (que é polarizada pela intenção), porquanto dar e receber são faces de uma mesma moeda, ambas são essencialmente energias, que se movimentam num fluxo de vai e vem pelo Universo, em conformidade com as leis de ação e reação ou causa e efeito, com as quais podem inclusive serem equiparadas, ou seja: dar = causa; receber = efeito.
O fluxo destas energias de “dar” e “receber” podem encontrar uma maior ou menor receptividade ou resistência por parte das pessoas, dependendo da harmonia existente entre sua vontade, intenção e consciência estarem ou não alinhadas com a harmonia do Universo, e isto pode perfeitamente justificar o porquê de tantas pessoas se queixarem de pouco ou nada receberem pelo tanto que já doaram em comparação com outras, que sempre doam sem nunca nada lhes faltar visto que também sempre recebem.
Um copo totalmente preenchido por água só poderá receber mais água se pelo menos parte de seu conteúdo for removido. Não há meios de receber mais água sem que ao menos um pouco do conteúdo inicial seja removido. O conteúdo de água que cabe no copo é limitado pela sua capacidade, mas pode-se enchê-lo infinitas vezes com um novo conteúdo sempre que o equivalente contido no copo ceder seu lugar. De modo análogo, muitas pessoas têm atitudes comparadas a copos d’água. Estão um tanto receptivas ao que o Universo oferece, porém de modo proporcional ao que elas doam. Suas consciências são um tanto limitadas ao ponto de ajustarem sua capacidade de receber em função da capacidade de doar. Existem também pessoas que só querem andar com seu copo sempre cheio, sem querer abrir mão de seu conteúdo. Como o Universo inteligente e justo não “desperdiça água” levando-a em copos que já se encontram cheios, o resultado é que elas sofrem ao verem a água de seu copo evaporar com o passar do tempo. Por outro lado, há pessoas que se portam não como copos d’água, mas sim como verdadeiros canais d´água. Ligadas diretamente à fonte, estão cientes de que não doam água, porquanto não são possuidores dela, mas tão somente permitem sua distribuição passiva e constantemente, não se preocupando em receber, pois sabem que estão ligadas à fonte e que esta é infinita e inesgotável. Em suma, elas realmente se comportam, agem e sentem-se parte dessa fonte, servindo sempre com alegria, disposição e despretensiosamente, de tal modo que nada realmente lhes falta. Neste exemplo, dar e receber se fundem pois estão acontecendo simultânea e harmonicamente, diluídos numa única força através da qual o Universo se manifesta, a força do Amor.
Sendo assim, podemos bem permitir ou restringir o fluxo que oriunda da fonte infinita do Universo, pela nossa vontade, intenção e sobretudo consciência, pois como vimos o Universo é o doador, nós apenas podemos ser bons ou mal servidores ou condutores.
“O que está em cima é como o que está embaixo” dizia HERMES TRIMEGISTUS, para exemplificar que o que acontece no microcosmo acontece também no macrocosmo e vice-versa, tal é a lei universal.
O universo provê constantemente a todos indistintamente de forma desinteressada e gratuita, pois ele próprio é abundância infinita, não exige e nem necessita receber nada em troca, nem aplausos, nem reconhecimento e nem tampouco se ensoberbece por tudo o quanto oferece; não há ainda cobranças nem empréstimos. Por tudo o quanto ele oferece não há nehuma descompensação, de forma que ele não exige recompensa, pois só quem se sente descompensado deseja ser recompensado, como é o caso do ego humano. Se nossa Essência divina (microcosmo) é feita à imagem e semelhança do Universo (macrocosmo), então por-quê não procurarmos alinhar nossas atitudes em consonância ao comportamento que Dele observamos? Foi talvez por tudo isso que nos fora sabiamente dito:
“Que a vossa mão esquerda não saiba o que dá a direita.” –
“Sede perfeitos como vosso Pai é perfeito.” –
“Há mais felicidade em servir do que em ser servido.” (JESUS)
A Cabala aponta para o egoísmo como sendo o maior erro do ser humano, condenando o desejo do homem de receber apenas para si próprio, recomendando-nos a adotarmos uma atitude mais centrada no Eu Superior onde possamos ser receptores e emissores simultaneamente.
O Dr.EDWARD BACH, médico inglês que desenvolveu o primeiro sistema de florais, certa vez disse:
- “Precisamos estar atentos principalmente ao darmos assistência aos outros, não importa quem eles sejam, para que estejamos seguros de que a vontade de ajudar advém dos desígneos do Eu Interior, e não de um falso sentido de dever a partir da persuação de uma outra personalidade dominadora.”
Baseando-me nestas observações e considerações e, aspirando enxergar as coisas num nível mais elevado possível de minha própria consciência, convenço-me finalmente de que o “dar” e “receber” se aglutinam dentro da prontidão do servir, como dizia FRANCISCO DE ASSIS:

“...fazei-me com que procure mais consolar do que ser consolado; compreender do que ser compreendido; amar do que ser amado.”
“...pois é dando que se recebe...”

autor: Wanderlei de M. Trindade (texto elaborado em 12/10/2010).

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