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terça-feira, 9 de novembro de 2010

A CRUZ CRÍSTICA

Temos por definição básica que a cruz é uma figura geométrica originada a partir de duas linhas, uma vertical e outra horizontal que se cruzam num ângulo de 90 graus, dividindo uma das linhas ou ambas, ao meio. É tida, depois do círculo, como um dos símbolos mais antigos, muito usada de forma religiosa, mística ou esotérica desde a Antiguidade pré-cristã e também entre povos não cristãos, tais como os egípcios, celtas, persas, fenícios, sírios, indianos e até índios americanos, estando atrelada quase sempre a algum tipo de culto da natureza. Não há registros históricos de quando e onde a primeira cruz se originou e, devido a variedade de formas de cruzes existentes entre diversos povos, há também grande variedade nos simbolismos que cada uma representa, chegando inclusive uma mesma cruz apresentar diferentes sentidos entre diferentes culturas.

Todavia, a simbologia que ora venho apresentar, recai especificamente sobre a cruz que serviu de instrumento da crucificação e morte de Yoshua, mais conhecido por Jesus, o Cristo. Embora seja tecnicamente classificada como sendo do tipo “cruz cristã” ou “cruz latina”, eu particularmente prefiro denominar a cruz de Jesus, de “Cruz Crística”. A razão pela qual faz jus a tal denominação oriunda estritamente da minha singular, subjetiva e intuitiva interpretação simbólica a partir de uma óptica não religiosa, nem dogmática, nem sectária, e que talvez, justamente por isto, qualquer texto que acaso o leitor se deparar com semelhante parecer, terá sido mera coincidência no modo filosófico e metafísico de refletir.

Percebi neste tipo de cruz a representação do modelo ideal proposto por Jesus, de como conduzir nossas vidas aqui na Terra. Jesus, mais do que dizer o que fazer, fez tudo o que disse, inclusive em se permitir morrer compulsoriamente na cruz revelando a si mesmo e à humanidade, a vitória final de seu “Eu Superior” ou “Essência Crística” sobre o seu ego humano físico-mental-emocional. O que passei a enxergar na cruz me convenceu de que ela serviu de um ótimo instrumento sobre a qual Jesus pôde derradeira- e sinteticamente imprimir os seus ensinamentos. A meu ver, nenhum outro gênero de morte combinaria tanto com o perfeito encaixe simbólico de seus ensinamentos como aquele que Lhe ocorreu no Calvarium, sobre a cruz. Quanto aos símbolos, ei-los!:

Linha vertical: representa a conexão verticalizada do “Eu Superior” do indivíduo, também chamado de “Super-Consciência”, “Cristo Interior” ou “Essência Divina” com Deus ou “Eu Universal”. – representa a consciência do “Eu Superior” na frase de Jesus: “Eu e o Pai somos um” - ou seja, a união do “Eu Superior” individual com o “Eu Universal”; também representa a metafísica e o plano da Transcendência Divina.

Linha horizontal: representa o plano horizontal do ego humano; não há diferença de nível enquanto se traça esta linha, simbolizando as características limitadoras do ego; também representa a ética e o plano da Imanência Divina.

Tamanho da linha vertical x Tamanho da linha horizontal: sendo a linha vertical da cruz maior do que a linha horizontal, isto representa que o nosso “Eu Superior” é quem deve ser soberano e não o ego, a exemplo de Jesus na frase: “O príncipe deste mundo (ego) tem poder sobre vós, mas não sobre mim, pois eu (Eu Superior) venci o mundo (ego).” Como se vê, a linha vertical é mais forte do que a linha horizontal, pois esta é sustentada por aquela, fazendo jus à sabedoria oriental de Krishna: “O Eu é o melhor amigo do ego, embora o ego seja o pior inimigo do Eu”.

Ponto de Intersecção: é a principal parte, pois sem este ponto não se forma a cruz

e os seus magnos significados:

- este ponto está localizado no terço superior central da cruz, o que corresponde à localização do coração no corpo do homem, o qual, por sua vez, representa o centro que se conecta ao “Eu Superior”. Nada Dele parte, como também nada a Ele chega sem que passe por este centro. Jesus demonstrou esta verdade ao dizer: - “Ninguém vai ao Pai (“Eu Superior”, “Consciência Crística” ou “Reino dos Céus”) senão por mim” (centro ou caminho do Amor).

-este ponto situa-se entre 4 ângulos retos, o que por sua vez gera 4 pontos cardeais: norte, sul, leste e oeste; 2 quadrantes superiores (representando o “Em Cima”); 2 quadrantes inferiores (representando o “Embaixo”); 2 quadrantes à esquerda (representando o Ocidente) e 2 quadrantes à direita (representando o Oriente). Na visão do ego, separatista e individualista, este ponto separa o mundo nestas regiões. Já, na unificadora visão do “Eu Superior”, este é o ponto de conexão com o Todo. Isto tudo representa o confronto do ego (que precisa de orientação, direção, quantificação, mensuração, julgamento, etc...) com o Eu Superior (que simplesmente É!). No ego, a objetividade, a dualidade e sua conseqüente visão ilusória do mundo manifesto, qual origina a dúvida, o medo e a “morte”, entre outras facticidades, desvanescem-se subjetivamente em meio à luz da onipotente força irradiada do “Eu Superior” através deste centro (coração), trazendo à tona a Realidade Imanifesta.

No Getsêmane, pressentindo estar próximo e como seria o fim de sua missão na Terra, a força da linha horizontal do ego humano de Jesus expressou-se : “...afaste de mim este cálice, se possível!” – mas em seguida, foi dominada pelo poder da linha vertical de seu “Eu Superior”: - “...mas que seja feita a Tua vontade (Eu) e não a minha (ego)”. Outro exemplo, ainda mais forte ocorreu já na cruz: - o auge do desespero do seu ego que clamou: - “Pai, porque me abandonastes”?! – foi finalmente vencido, quando o auge do seu “Eu Superior” se manifestou, dizendo: “ Tudo está consumado! Pai, em tuas mãos entrego-Te o meu espírito”!

Desta forma, sinto que Jesus atingiu o seu verdadeiro objetivo: - conquistou sua “Auto-redenção” ou seu estado de “Cristo”, ao cumprir uma extraordinária experiência na carne (linha horizontal) que tanta resistência impõe ao espírito (linha vertical), mas cuja força (centro do coração ou caminho do Amor) permitiu-lhe dominar àquela com firmeza e sabedoria ao ponto de alcançar a sua pleniconsciência ou “Glória”, como certa vez solicitou ao Pai (“Glorifica-me, Pai, com Aquela Glória que eu tinha em Ti antes que o mundo fosse feito”).

Os ângulos retos: representam as linhas básicas que compõem a experiência terrestre consciente (vertical e horizontal = “Eu Superior” e ego, respectivamente) necessárias para que o homem atinja sua auto-realização ou pleni-consciência, ou ainda como dizia Jesus, entre no “Reino dos Céus”. Em outras palavras, representam o modo “reto” de agir ou o “reto-agir”.

Toda a ação do homem profano o onera de culpa acumulando karma, porque sua ação é baseada no seu ego, a linha horizontal limitada à ilusão, ao erro, à dúvida e à maldade, sendo portanto o seu agir um “falso-agir”. A tentativa de se atingir um estado de Iluminação direta (apenas pela linha vertical), através da auto-entrega à inatividade via “não-agir”, como uma espécie de eterna meditação passiva, a fim de não aumentar deste modo o débito negativo do karma, é um verdadeiro escapismo à realidade, uma utopia, e esta vida na inércia corresponde à própria morte, porquanto a vida é ação, movimento. Já o “reto-agir”, é literalmente um agir de 90 graus, pois significa agir por amor ao “Eu Superior” (linha vertical), embora por meio do ego (linha horizontal), modo este de agir que não apenas não origina nova culpa no presente e no futuro, mas que também neutraliza o karma do “falso agir” do passado, livrando deste modo o homem de todos os seus débitos. Sábios da Antiguidade pré-cristã, como Krishna na Índia e Lao-tsé na China, afirmaram ser este o caminho que conduz o homem à sua auto-realização e, a experiência terrena vivida por Jesus, convenceu-me desta verdade:

- a de que o homem não precisa buscar em outra vida ou em outro lugar a sua verdadeira felicidade ou auto-realização, pode alcançá-la aqui mesmo e agora, se conseguir manter sempre os seus pés-firmes no chão (horizontal) e a cabeça nas alturas do Cosmo infinito (vertical) vivendo sua vida via “reto-agir”, o caminho que conduz à Verdade, situada num ângulo reto entre o monte Calvarium e o monte das Bem-Aventuranças.

“Conhecereis a Verdade e ela vos libertará!”

“O Reino dos Céus habita dentro de vós” dizia Ele...

autor: Wanderlei de M.Trindade (texto elaborado em 06/10/2010).

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